Instrutor NR35: A Proficiência que Salva Vidas em Altura.

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Tabela de Conteúdos

A cena é comum em qualquer grande cidade brasileira: homens e mulheres pendurados em andaimes, limpando fachadas, erguendo estruturas. Pontos móveis na paisagem urbana que, para a maioria de nós, passam despercebidos. Mas entre o trabalhador e o abismo de dezenas de metros, existe uma linha tênue, invisível. Não é só um cabo de aço. É uma linha de conhecimento, de procedimento, de repetição. Uma linha desenhada por um profissional que raramente aparece na foto: o instrutor de NR35.

Mas quem é essa figura? Um herói anônimo da segurança do trabalho ou apenas mais um elo na longa e, por vezes, cansativa corrente da burocracia brasileira? A resposta, como quase tudo na vida real, mora em um confuso meio-termo.

O que, afinal, faz um Instrutor NR35?

Esqueça a imagem de um professor monótono passando slides em uma sala abafada. O trabalho de um bom instrutor de trabalho em altura é forjado na prática, no suor, na antecipação do erro. A Norma Regulamentadora 35, criada para estabelecer os requisitos mínimos de proteção para o trabalho em altura, é o seu livro de regras, mas o campo de jogo é a realidade.

A responsabilidade é imensa. Não se trata apenas de ensinar a vestir um cinto de segurança. Trata-se de capacitar alguém a analisar os riscos, a inspecionar seus próprios equipamentos, a escolher um ponto de ancoragem seguro e, crucialmente, a saber o que fazer quando tudo dá errado. Envolve ensinar sobre nós, sistemas de resgate e os efeitos traiçoeiros da suspensão inerte.

Não é só amarrar uma corda. É saber por que aquela corda, naquele nó, naquele ponto de ancoragem, é a diferença entre voltar para casa e virar estatística.

A Burocracia por Trás do Crachá: Quem Pode Ensinar?

Aqui o terreno começa a ficar pantanoso. A norma, em seu texto, é um tanto vaga. Ela exige que o instrutor seja “proficiente no assunto”. Uma palavra que abre margem para um universo de interpretações. Na prática, o que se convencionou aceitar?

Geralmente, espera-se que um instrutor tenha, no mínimo, formação como Técnico em Segurança do Trabalho, com especialização em trabalho em altura. Mas a norma não fecha a porta para outros. Um bombeiro civil com vasta experiência em resgate ou um engenheiro que projetou sistemas de ancoragem por anos podem, teoricamente, ser considerados proficientes.

O problema é que “proficiência” virou palavra-chave para uma indústria de certificados. A questão não é apenas ter um diploma, mas ter a vivência.

Comparativo de Qualificações Mínimas Esperadas

Qualificação O que Significa na Prática Ponto de Atenção
Formação Técnica/Superior Técnico em Segurança, Engenheiro, Bombeiro Profissional Civil. O diploma é o ponto de partida, não a linha de chegada.
Experiência Prática Ter executado trabalho em altura, realizado resgates, inspecionado equipamentos em campo. É o diferencial. Pergunte sobre a experiência real do instrutor.
Andragogia Curso ou conhecimento em técnicas de ensino para adultos. Saber fazer é diferente de saber ensinar. Um bom instrutor precisa dos dois.

“Olha, o papel… o papel aceita tudo”, me confessou um técnico de segurança com mais de 20 anos de carreira, sob a condição de anonimato. “Já vi gente que mal subiu num andaime de dois metros querendo dar aula. A proficiência, a experiência real… isso não vem em qualquer certificado comprado na internet. Isso vem do chão de fábrica, da obra.”

O Mercado de Treinamentos: Uma Selva de Oportunidades

Com a obrigatoriedade do treinamento, um mercado gigantesco floresceu. E, como em todo mercado aquecido no Brasil, a qualidade varia drasticamente. Existem empresas sérias, com centros de treinamento que simulam cenários reais, investindo em equipamentos de ponta. E existem as “fábricas de certificados”, que cumprem a carga horária mínima no papel e liberam trabalhadores para as alturas com uma falsa sensação de segurança.

O buraco é mais embaixo. A escolha de um bom curso de NR35 não pode ser baseada apenas no preço. É um investimento, não um custo a ser cortado. Na ponta do lápis, o valor de um treinamento de qualidade é irrisório perto do custo de um acidente de trabalho – para a empresa, para a sociedade e, principalmente, para a família do trabalhador.

Checklist para Não Cair em Cilada

  • Pesquise a empresa: Verifique o CNPJ, o tempo de mercado e as avaliações de outros alunos.
  • Conheça o instrutor: Peça o currículo do profissional que ministrará o curso. Desconfie de quem esconde essa informação.
  • Estrutura prática: O treinamento precisa ter uma parte prática robusta, com equipamentos de qualidade e em bom estado. Treinamento de altura só com slides não existe.
  • Carga horária: Verifique se a carga horária mínima de 8 horas para o curso inicial está sendo cumprida integralmente.
  • Foco no real: O curso aborda situações de resgate e emergência? Ele é adaptado à realidade da sua função?

A Linha que Salva Vidas

Nesses meus quase 15 anos de reportagem, cobrindo de canteiros de obras a investigações de acidentes, aprendi a enxergar o que não está no laudo técnico. Conversei com dezenas de trabalhadores, engenheiros e técnicos. E a linha que separa um dia normal de trabalho de uma tragédia é, muitas vezes, a qualidade da informação que um homem ou mulher recebeu horas, dias ou meses antes.

Este texto não nasce de uma busca rápida na internet, mas da poeira de obra no sapato e do eco de muitas vozes que sabem, na pele, o que é o risco. O instrutor de NR35 não é um herói de capa nem um burocrata carimbador de papéis. Ele é uma peça-chave numa engrenagem que, quando funciona bem, ninguém percebe. E, no fim das contas, o anonimato do seu sucesso é a maior prova de sua competência.


Perguntas e Respostas Frequentes (FAQ)

  • 1. Qualquer pessoa pode se tornar um instrutor de NR35?

    Não. A norma exige “proficiência”, o que implica ter conhecimento teórico profundo, vasta experiência prática em trabalho em altura e, idealmente, capacitação para ensinar adultos (andragogia). Apenas ter feito um curso de NR35 não qualifica alguém para ser instrutor.

  • 2. Qual a validade do certificado de NR35 para os trabalhadores?

    O treinamento de NR35 tem validade de 2 (dois) anos. Após esse período, o trabalhador deve passar por um treinamento de reciclagem, com carga horária e conteúdo definidos pelo empregador.

  • 3. Para ser instrutor, preciso ter um “Curso de Formação de Instrutor de NR35”?

    Não há na norma uma exigência de um curso específico com esse nome. A exigência é a proficiência. No entanto, cursos de formação de instrutores são altamente recomendados, pois eles aprimoram as técnicas de ensino e aprofundam o conhecimento normativo, ajudando a comprovar a qualificação.

  • 4. Como uma empresa pode verificar se o instrutor contratado é realmente qualificado?

    A empresa deve solicitar e analisar o currículo completo do instrutor, incluindo certificados de formação (Técnico, Engenheiro, etc.), comprovantes de experiência na área (registros em carteira, contratos) e certificados de cursos de especialização, como o de instrutor e de resgate em altura.

  • 5. O que acontece com a empresa se um funcionário trabalhar em altura sem o treinamento de NR35?

    A empresa fica em situação irregular perante a fiscalização do trabalho, podendo ser multada e ter a atividade embargada. Em caso de acidente, a falta do treinamento é um agravante que pode resultar em pesadas consequências legais, cíveis e criminais para os responsáveis pela empresa.

Para informações sobre legislação e estatísticas de acidentes de trabalho, consultamos dados públicos disponibilizados por portais como o G1.

 Mara Queiroga Pereira

Mara Queiroga Pereira

Com uma base acadêmica sólida em Engenharia e uma pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, minha jornada na área de Segurança e Saúde no Trabalho nasceu de uma profunda convicção na importância de ambientes laborais seguros e saudáveis para todos. Ao longo de mais de 15 anos de experiência, especializei-me na interpretação e aplicação das Normas Regulamentadoras, o que me permitiu desenvolver e ministrar uma vasta gama de cursos e treinamentos. Sou instrutora certificada para as principais NRs

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