O “valor” do curso NR35 é, para muitos, a primeira pergunta que surge na busca por conformidade ou por uma nova qualificação. Mas, após quinze anos de estrada neste ofício, cobrindo os meandros do mercado e as dores da segurança do trabalho, posso afirmar: o preço que se vê na tabela é apenas a ponta do iceberg. O buraco, como sempre, é mais embaixo. E o verdadeiro custo de uma formação inadequada, ou da aus ausência dela, pode ser medido em unidades muito mais caras do que reais: vidas.
Não nos enganemos. Em um país onde acidentes de trabalho em altura ainda figuram entre as principais causas de fatalidades, a Norma Regulamentadora 35 não é um mero capricho burocrático. É um salva-vidas, uma exigência legal que tenta, a fórceps às vezes, garantir que quem pisa em andaimes, telhados ou torres retorne para casa ao final do dia. E, acreditem, não há preço para isso.
NR35: Muito Além do Papel Timbrado
Para quem ainda não está familiarizado, a NR35 estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura, envolvendo planejamento, organização e execução. É um compêndio de boas práticas, sim, mas também uma imposição legal que recai sobre empregadores e empregados. Ignorá-la não é opção, é negligência, com consequências jurídicas e morais pesadas.
O que a gente vê por aí, na correria do dia a dia, é a busca pela solução mais barata. “Qual o curso NR35 mais em conta?”, questiona o empresário com o freio de mão puxado. A pergunta é legítima, claro. Mas a resposta, essa sim, exige uma lupa e um olhar mais crítico para o que realmente está sendo oferecido. Afinal, estamos falando de qualificação para lidar com riscos de vida, e não de um pacote de pipoca no cinema.
O Que Realmente Pesa no Bolso (e na Qualidade)
O valor de um curso NR35 pode flutuar de forma surpreendente. Já vi ofertas de R$ 99 e outras que beiram os R$ 800, ou até mais, por uma mesma carga horária “básica”. Essa disparidade não é aleatória; ela reflete uma série de fatores que moldam a qualidade – ou a falta dela – do treinamento.
Vejamos alguns pontos cruciais que influenciam esse preço e que deveriam ser avaliados com rigor:
- Modalidade: Online vs. Presencial: A pandemia acelerou a oferta de cursos a distância, e o NR35 não ficou de fora. É mais barato, sem dúvida. Mas o trabalho em altura, meu caro, é prático, exige manuseio de equipamentos, simulações de resgate. Um curso online pode cobrir a teoria, mas a parte “mão na massa” fica comprometida. Como disse um técnico de segurança que encontrei numa obra: “Olha, para o básico, até vai. Mas subir na estrutura e ter que se segurar de verdade, só no presencial. Tem coisa que o computador não ensina, né?”.
- Carga Horária e Conteúdo: O treinamento básico de NR35 exige 8 horas. Mas há cursos de reciclagem, com menor duração, e formações mais aprofundadas para supervisores, por exemplo. Quanto mais complexo o conteúdo e maior a carga horária, maior o investimento.
- Credibilidade da Instituição: Esse é o ponto chave. Centros de treinamento com instrutores experientes, com vivência de campo, infraestrutura adequada para aulas práticas (torres, simuladores, equipamentos de ponta) e certificação reconhecida, custam mais. E devem custar. O “baratinho” muitas vezes é aquela empresa que mal tem um CNPJ e um certificado questionável. É um risco que simplesmente não compensa.
- Localização Geográfica: Como tudo no Brasil, o valor pode mudar de uma região para outra. Grandes centros urbanos, com mais oferta e demanda, podem ter preços diferentes do interior.
- Inclusões no Pacote: Material didático (impresso ou digital), coffee break, almoço (em cursos de dia inteiro), consultoria pós-curso, facilidade de agendamento – tudo isso pode agregar valor e, claro, ao preço final.
A Economia Que Sai Caro: Uma Conta Que Não Fecha
É uma tentação, para empresas e até para profissionais autônomos, buscar o menor preço. É natural. Mas a economia de algumas centenas de reais pode se transformar numa dívida impagável. Já presenciei situações onde a falta de um treinamento adequado levou a acidentes graves, com sequelas permanentes, ou, no pior dos cenários, a mortes.
Quando um trabalhador se acidenta por falta de treinamento ou por um treinamento de péssima qualidade, a conta vem. E vem pesada: indenizações, multas altíssimas da fiscalização do trabalho, processos judiciais, interdição da obra ou da empresa, e, o mais cruel, a mancha de um acidente que poderia ter sido evitado. “A gente achou que dava para ‘quebrar o galho’ com um curso online de qualquer jeito, sabe? Pra pegar o certificado. Aí quando o ‘seu’ João escorregou, a gente viu que não era brincadeira”, lamentou um pequeno empreiteiro, com a voz embargada, enquanto a perícia inspecionava o local do acidente.
O que se percebe é que o valor do curso NR35 deve ser visto como um investimento em segurança, em produtividade e, acima de tudo, em vidas. É a garantia de que, ao subir em alturas perigosas, o trabalhador terá o conhecimento e as habilidades necessárias para se proteger.
Tabela comparativa (Valores estimados e fictícios, apenas para ilustração):
Modalidade | Carga Horária | Média de Preço (R$) | Prós | Contras |
---|---|---|---|---|
Online (Básico) | 8h | R$ 99 – R$ 250 | Flexibilidade, menor custo inicial | Ausência de prática, certificação pode ser menos valorizada |
Presencial (Básico) | 8h | R$ 300 – R$ 600 | Prática em ambiente controlado, instrutor direto, networking | Menos flexibilidade, custo mais alto, deslocamento |
Presencial (Reciclagem) | Variável (4h-8h) | R$ 200 – R$ 450 | Atualização de conhecimentos, foco em novas técnicas | Requer certificação anterior |
Presencial (Supervisor/Avançado) | Variável (16h+) | R$ 600 – R$ 1000+ | Formação completa, liderança em segurança | Custo e tempo de dedicação elevados |
Portanto, antes de bater o martelo e escolher o mais barato, faça a lição de casa. Pesquise a reputação da instituição, converse com ex-alunos, verifique a qualificação dos instrutores e, principalmente, entenda o que está incluído no pacote. Porque, no final das contas, o verdadeiro valor não está no preço que você paga, mas na vida que ele pode preservar.
Este artigo foi elaborado por um jornalista com vasta experiência no setor de segurança e saúde no trabalho, após extensa apuração e entrevistas com profissionais da área.
FAQ – Perguntas e Respostas Frequentes sobre o Curso NR35
Qual a duração do curso NR35?
O curso básico de Trabalho em Altura (NR35) tem uma carga horária mínima de 8 horas, conforme estabelecido pela própria norma. Existem, contudo, cursos de reciclagem, com menor duração, e formações avançadas para supervisores ou equipes de resgate, que podem ter cargas horárias maiores.
O certificado do curso NR35 tem validade?
Sim, o certificado do curso NR35 não tem uma validade fixa definida pela norma. No entanto, a NR35 exige que a reciclagem seja feita sempre que houver necessidade, por exemplo, quando ocorrem mudanças nas condições ou operações de trabalho, eventos que indiquem a necessidade de novo treinamento, ou quando há retorno de afastamento do trabalho por mais de 90 dias. Geralmente, as empresas e profissionais costumam fazer a reciclagem a cada dois anos para manter o conhecimento atualizado e a conformidade.
É obrigatório fazer o curso NR35?
Sim, é obrigatório. A Norma Regulamentadora 35 (NR35) é clara: todo trabalhador que executa atividades acima de dois metros do nível inferior, onde haja risco de queda, deve ser capacitado para o trabalho em altura. A responsabilidade por essa capacitação é do empregador.
Um curso NR35 online é válido?
Um curso NR35 online pode ser considerado válido para a parte teórica, desde que a plataforma e o conteúdo sigam as diretrizes da NR-1 (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais) e que a instituição seja reconhecida. No entanto, para o trabalho em altura, a parte prática é fundamental e indispensável. Muitos profissionais e empresas preferem e recomendam o formato presencial ou um modelo híbrido para garantir que o treinamento abranja as habilidades práticas necessárias.
O que acontece se a empresa não oferecer o curso NR35?
A falta do curso NR35 para trabalhadores que realizam atividades em altura pode acarretar sérias consequências para a empresa, incluindo multas pesadas aplicadas pela fiscalização do trabalho, interdição de obras ou setores, processos judiciais por parte dos trabalhadores ou de suas famílias em caso de acidentes, e responsabilização civil e criminal dos gestores. Além, claro, do risco iminente de acidentes graves ou fatais.
Para mais informações sobre as Normas Regulamentadoras, consulte o site oficial do Governo Federal, no Ministério do Trabalho e Emprego, ou portais de notícias como o G1 – Economia e Emprego, que frequentemente abordam temas de segurança do trabalho.