A Anatomia de um Acidente: Como Aprendi a Dissecar um Laudo NR 12
A Verdade Não Está na Conclusão, Mas nos Detalhes que o Perito Deixou Passar
O cheiro de papel impresso e a lupa que revela a falha crucial.
Chegou em minhas mãos um laudo nr 12 impecável. Um documento robusto, com fotos nítidas, termos técnicos, e uma conclusão tranquilizadora: “a máquina encontra-se em conformidade”. O único problema? Um trabalhador tinha perdido dois dedos naquela mesma máquina, um mês depois da emissão do laudo. Minha missão era encontrar a falha naquele papel perfeito.
O cheiro de tinta fresca do documento impresso parecia zombar da minha cara. Espalhei as folhas pela minha mesa, peguei meus post-its coloridos e comecei a dissecar. O erro que eu cometia no passado era ler a conclusão e me dar por vencida. Hoje, eu sei: a conclusão é a última coisa que se lê. A verdade mora nos anexos, nas fotos, na metodologia.
Passei horas comparando as fotos do laudo com as fotos que meu perito tirou da máquina após o acidente. E lá estava. Um pequeno dispositivo de segurança, presente na foto do laudo, havia sido removido – uma “gambiarra” para aumentar a produtividade. O laudo era perfeito para uma máquina que só existia no papel. A dica de ouro para qualquer colega advogado: trate um laudo nr 12 como a peça de defesa da parte contrária. Desconfie. Questione a categoria de risco. Verifique o inventário. Compare as fotos. Muitas vezes, um laudo técnico não é um retrato da realidade, mas uma obra de ficção. E meu trabalho é provar isso.