Trabalho em altura e um curso pela internet. A frase, por si só, já causa um certo estranhamento. Soa quase como aprender a nadar por correspondência. Em mais de uma década e meia cobrindo de tudo um pouco neste país, de escândalos políticos a tragédias anônimas, aprendi que a realidade costuma ser mais complexa do que parece. E o curso NR35 online é um desses casos: uma mistura de modernidade, conveniência e, sejamos honestos, um bocado de risco se não for bem compreendido.

A promessa é tentadora. Em um país com dimensões continentais, onde deslocar uma equipe para um treinamento presencial pode custar os olhos da cara e dias de trabalho perdidos, a possibilidade de resolver a burocracia com alguns cliques é um alívio para qualquer gestor. Mas a que preço? Quando a segurança de um trabalhador a 10, 20, 30 metros de altura está em jogo, o buraco é sempre mais embaixo.

O que diabos é a NR-35, afinal?

Antes de mais nada, vamos aos fatos. A Norma Regulamentadora nº 35 não é uma sugestão. É lei. Criada pelo então Ministério do Trabalho, ela estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura. Isso envolve desde o planejamento e organização até a execução da tarefa. A ideia é simples: evitar que pessoas caiam.

Qualquer atividade executada acima de 2 metros do nível inferior, onde haja risco de queda, exige que o trabalhador tenha um certificado válido desta norma. E não é só para o peão no andaime da construção civil. Pense no técnico que instala sua internet no poste, no funcionário que faz a manutenção do ar-condicionado no topo de um prédio, no pessoal que monta palcos para shows. A lista é longa.

O treinamento é obrigatório e precisa ser renovado a cada dois anos. É aqui que o mundo digital entra em campo, prometendo agilidade e economia.

A Tela do Computador vs. a Força da Gravidade

A grande questão, o centro de toda essa discussão, é a validade e a eficácia de um treinamento online para uma atividade tão palpável. Uma coisa é ler sobre os tipos de cinto de segurança e nós de ancoragem. Outra, completamente diferente, é sentir o peso do equipamento, aprender a ajustá-lo ao seu corpo, a fazer o nó com as próprias mãos, a simular uma situação de emergência.

“Olha, a parte teórica, as regras, os nomes dos equipamentos… isso dá pra aprender no online, sim. Facilita a vida da gente, adianta o processo”, me confidenciou um técnico de segurança do trabalho, pedindo para não ser identificado. “Mas a prática… a prática é insubstituível. Ver o olho do aluno, corrigir a postura dele na hora de prender o talabarte. Isso um vídeo não faz.”

A legislação, inclusive, é clara nesse ponto. A própria NR-1, que dita as disposições gerais das normas regulamentadoras, permite o ensino a distância (EAD) para a parte teórica dos treinamentos. Contudo, para o curso NR35, a parte prática é obrigatória e, por razões óbvias, presencial.

Então, o Curso NR35 Online é Válido ou Não?

Sim, mas com um grande “depende”. Um curso 100% online, que promete um certificado válido sem qualquer atividade prática, está, na melhor das hipóteses, te vendendo uma solução incompleta. Na pior, está cometendo uma fraude.

O modelo que funciona e é aceito legalmente é o semipresencial. O trabalhador faz toda a carga horária teórica pela internet, no seu ritmo, e depois realiza uma complementação prática, com um instrutor qualificado, para colocar a mão na massa. É a união de dois mundos.

Comparando os Formatos de Treinamento NR35

Aspecto Curso Online (Teórico) Treinamento Presencial (Prático)
Conteúdo Normas, legislação, análise de risco, procedimentos operacionais, tipos de EPIs. Uso e ajuste de equipamentos, técnicas de ancoragem, nós, simulação de resgate.
Flexibilidade Alta. O aluno estuda quando e onde quiser. Baixa. Exige agendamento e deslocamento até um local específico.
Interação Limitada a chats ou fóruns. Não há feedback físico. Direta com o instrutor e outros alunos. Correção imediata de erros.
Ideal para Reciclagem (atualização bienal) ou como parte teórica do treinamento inicial. Primeiro treinamento e para a parte prática obrigatória de qualquer formação.

Para Quem o Curso NR35 Online Realmente Serve?

Colocando na ponta do lápis, a versão online da parte teórica é uma ferramenta poderosa para alguns cenários específicos:

No fim das contas, a tecnologia é uma aliada. Mas não faz milagres. O treinamento NR35 online é um avanço, uma forma de tornar o conhecimento mais acessível e a burocracia mais ágil. Só não podemos, jamais, nos iludir de que ele substitui a experiência real, o instinto, a memória muscular que só um treinamento prático pode construir.

Afinal, quando se está a dezenas de metros do chão, a confiança não vem de um certificado digital, mas do conhecimento que está gravado nas mãos.


Este artigo foi elaborado por um jornalista com 15 anos de experiência na cobertura de temas relacionados a trabalho, economia e segurança, buscando traduzir informações técnicas complexas para o público em geral com base em apuração de fatos e consulta a especialistas da área.

Perguntas Frequentes (FAQ)

Posso fazer o curso de NR-35 100% online e ter um certificado válido?

Não. A legislação exige que o treinamento para trabalho em altura tenha uma parte prática presencial. Cursos que prometem um certificado válido de forma totalmente online estão em desacordo com a norma. O modelo válido é o semipresencial, onde a teoria é online e a prática é feita em local adequado.

O certificado do curso NR35 online é aceito na fiscalização?

O certificado da parte teórica online é aceito, desde que seja complementado pela comprovação do treinamento prático presencial. Um fiscal do trabalho exigirá a comprovação de ambas as etapas, teórica e prática.

Para quem já tem experiência, o curso online é suficiente?

Para a reciclagem (renovação a cada dois anos), o formato online para a teoria é muito indicado e eficiente, já que o profissional já possui a vivência prática. Para a primeira certificação, mesmo para quem já trabalha na área, a parte prática supervisionada é indispensável e obrigatória.

Qual a carga horária do curso NR-35?

A carga horária mínima para o treinamento inicial é de 8 horas, divididas entre teoria e prática. A definição exata do tempo dedicado a cada parte pode variar conforme a análise de risco da atividade que o trabalhador irá executar.


Fonte de referência para informações normativas: Portal do Governo Federal – Normas Regulamentadoras.